Fala galera!!!!!!
Há muito tempo, que eu gostaria de retornar ao morro da Covanca em Água Santa, aqui no Rio, Esse morro e esse bairro fazem parte da minha infância e juventude. Foi nele que pela primeira vez, fui com meu saudoso pai, por uma trilha que passava por cima da hoje desativada, Pedreira de Água Santa. Na época eu deveria ter 6 ou 7 anos, mas me recordo ainda das casas e carros pequeninos lá em baixo e de uma planta que meu pai apressou-se em falar:
- Essa planta é veneno, chama-se Mata-Cavalo.
Foi essa a minha primeira trilha e a primeira de muitas caminhadas por este morrão.
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O Morro da Covanca. A esquerda podemos ver a Pedreira, agora desativada |
Da casa em que eu morava, no fundo do quintal, podia avistar o Pico da Tijuca, o Tijuca-Mirim, o Morro da Covanca e a Serra dos Pretos Forros, que passou a ser a minha paixão, ficava por horas contemplando aquele aglomerado de arvores, imaginando como seria estar no meio delas e quantos bichos habitariam aquela floresta?
- Será que tem onça??? Mora gente lá?? Essas e outras perguntas povoavam a minha cabeça de criança, durante aquelas tardes na década de 70.
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Coberto pelas nuvens o Pico da Tijuca e parte do Morro da Covanca. |
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Covanca e Serra dos Pretos Forros |
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Zoom ba Serra dos Pretos Forros |
Uma vez o filho de uma vizinha da minha avó, Djalma era o seu nome,organizou uma caminhada ao topo do Morro do 18, eu devia ter uns 10 anos e como minha mãe e avó eram muito amigas da mãe desse rapaz, deixaram eu ir, debaixo de mil recomendações. Desse passeio eu lembro pouco, era um dia nublado e frio, foram vários moleques e pela primeira vez eu vi uma bussola, no mais não lembro nada.
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O Morro do 18, a direita podemos observar a antiga pedreira, situada na Rua Almeida Nogueira, 18, que deu origem ao nome da favela. A esquerda o Morro careca |
No ginásio, 6ª serie pela segunda vez, tinha eu meus 13 anos, e entrou um cara novo na turma, Gaspar, como ele era muito branco a galera chamava ele de Gasparzinho kkkkk, era uma cara maneiro com um jeito de moleque do interior, seus pais tinham um pequeno sitio ao lado do Varzea Coutry Clube, no pé da Serra dos Pretos Forros!!!!!!!
Como a quadra da escola Republica de El Salvador, estava em obras, nossas aulas de educação física eram feitas no Várzea. Em um belo dia o Professor faltou e eu lancei a ideia: Que tal a gente subir o morro?? De pronto a galera topou, meninos, meninas, foi maior galerão kkkkkk Gaspar conhecia bem o local, não chegamos até a serra, pois a trilha estava muito fechada e as meninas começaram a reclamar, mas visão daquelas arvores que eu admirava ali tão de perto não saem da minha memoria... e lá se vão quase 40 anos!!!!!
Os pais de Gaspar alem do pequeno sitio, tinham também um pequeno bar na esquina da Rua Torres de Oliveira com Rua da Pátria, e não é que a mãe dele chamou a galera toda pra almoçar, muita gente não ficou pois os pais iriam brigar se se atrasassem... os que ficaram comeram um delicioso bife com fritas com direito a coca cola. Muito bom !!!!!!
Depois desse dia votei muitas vezes naquela trliha, sozinho ou com os amigos. Passei a subir também o Morro Careca, que fica entre a Covanca e o 18, que proporcionava uma bela vista de parte da Zona Norte e Jacarepagua.
No topo do Morro Careca existe uma torre de transmissão de energia e para construção dessa torre fizeram, ou já existia, sei lá, uma estrada de terra que saia no Tanque em jacarepagua. Passando por dentro da Serra dos Pretos Forros. Não me lembro se neste dia estava sozinho, acho que sim, resolvi descer pela estradinha de terra chegar até a serra do Pretos Forros, foi a primeira vez que entrei naquela floresta. O cheiro bom da mata, a umidade, as arvores os pássaros desse dia não saíram mais da minha mente. Nenhuma mata tem o cheiro do Morro da Covanca e Serra dos Pretos Forros. É único. Nesse dia não fui para Jacarepaguá, virei a esquerda e sai na Rua da Agua Mineral, essa rua hoje não existe mais, por ela agora passa a Linha Amarela.
Na adolescência veio a paixão pelas bikes, conheci o Flavinho e seu irmão Xandy que adoravam andar de bike e de quebra também adorava trilhas. Através dele conheci uma pequena cachoeira, essa no Morro da Covanca mesmo. Essa pequena cachu, virou meu refúgio, uma pequena queda escondida entre pedras, no verão ia lá direto, sozinho, com a galera, a pé ou de bike tava sempre lá. Passei a ir também a uma pedra quase no topo do Morro da Covanca, de onde se tinha um visual estonteante de boa parte da Zona Norte e Baia de Guanabara Caminhado um pouco além desta pedra chegava -se a nascente da Agua Mineira, que dá nome ao Bairro.
Uma curiosidade: Embora a nascente seja no bairro de Água Santa, a água mineral é engarrafada e sai com o nome de Agua Mineral Santa Cruz!!! Vai entender kkkk
Uma coisa que fazíamos muito, principalmente eu e Flavinho, era descer de bike pela estradinha de terra ate jacarepagua, Íamos até a o favela da Covanca, que nesta época tinha poucos barracos e ainda não existia tráfico, tomávamos uma Coca em uma birosca e voltávamos.
Em um desse passeios, aconteceu uma coisa sinistra: Estavamos eu, Flavinho e Verdinho, descendo de Bike em direção a jacarepagua, quando subiu um fusquinha com três caras mal encarados dentro. Passaram pela gente, nos olharam e seguiram em frente. Minutos depois, um estampido no meio da mata. Um tiro disparado!!! Ficamos meio assim, sem saber o que fazer, quando volta o fusquinha, porem desta vez, voltaram apenas 2 pessoas no carro. Passaram "voados" pela gente, e por sorte, ou por falta de balas, não eliminaram as testemunhas do possível crime, no caso nós.
Retornamos meios assustados e com medo dos caras voltarem, Não vimos nenhum corpo. E passamos um bom tempo sem voltar lá.
Perdi a conta de quantas vezes voltei nesse morrão Foram muitos passeios com muitas pessoas em diversos dias e momentos diferentes. Com amigos que mantenho contato até hoje, outros q perdi o contato e outros que já nos deixaram.... Sei que vou esquecer ou não lembrarei o nome de todos, mas gostaria de mencionar algumas destas pessoas: Gaspar, Marquinhos, meu irmão Rodrigo, Flavinho, Xandy, Carlos Abigo(só uma vez pra nunca mais kkkkk), Dinha, Simone, Shirley, Marcinha, Monica, Claudia, Marcio, Fernando, a galera da El Salvador e o saudoso Alex.
O trafico chegou ao Morro do 18 em meados dos anos 80. Mas como a rapaziada que passava a droga eram todos nascidos no morro, os chamados crias, conhecia todos da escola ou de vista das ruas, não tínhamos problemas em caminhar pelos morros, pois de uma forma ou de outra sempre tinha um conhecido e a galera do trafico não se metia com a gente.
Atualmente a situação é bem diferente. As favelas se multiplicaram na região. E com elas o trafico, a milicia, as armas pesadas e as frequentes guerras. Em 1990 foi a última vez que subi o morro da Covanca, Já morava em Campo Grande e planejei subir o morro pelo 18 e sair no Várzea. Na subida teve um cara da boca que eu não conheciam que entrou numa de revistar a gente. Como ainda conhecia muita gente na favela reclamei, o cara quis encrespar comigo mas logo chegou a turma do deixa disso e graças ao "contexto" que eu ainda tinha segui meu caminho sem maiores problemas, mas foi a ultima vez que pude subir nesse morrão que tantos bons momentos me proporcionou.
Até que no ano passado, vi umas fotos, na Fanpage Voz de Água Santa, de uma galera fazendo uma caminhada e andando de bike no Morro da Covanca. Busquei informações e soube que no final da rua 2 de fevereiro, no Engenho de Dentro, tem um acesso onde se pode ir tranquilamente. Graças a presença da UPP da Camarista Méier essa parte do morro voltou a poder ser frequentada.
Embora não pudesse subir por Água Santa poderia enfim voltar ao morrão que tanta saudade eu sentia.
Semana passada decidi conhecer o lugar, a intenção era subir pela trilha até uma torres e de lá fazer uma fotos do Maciço da Tijuca, que fica bem próximo ao local.
A trilha inicia-se no final da Rua 2 de Fevereiro, no Engenho de Dentro e é muito utilizada pela galera da Bike
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Antiga pedreira na Rua 2 de fevereiro |
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Uma pequena gruta a esquerda. |
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2-2 (Dois de Fevereiro) a pintura na pedra indica o nome do local |
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O pico da Covanca e a esquerda as torres as quais pretendia chegar |
Depois da Pedra 2-2, a trilha se divide para a esquerda vai-se em direção a Camarista Meier e a direita continuamos na pista das bikes.
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A esquerda a UPP da Camarista Meier |
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a esquerda continuamos na pista das bikes |
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Bairro do Engenho de Dentro |
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A Linha Amarela e o Engenhão |
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Bairro do Meier |
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Os "loucos" sobem de bike até aqui e descem ladeira abaixo!!!!!! |
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Rampa |
Fui até o final da pista e a trilha continuava em direção a Água Santa, como me recomendaram não ir para aquele lado retornei. Fui em direção a Camarista Meier, porem, vi uma trilha bem aberta, que a principio pensei me levaria até as torres, mas para minha surpresa levaram até uma pequena e abandonada capela.
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Guarita da PM |
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A pequena gruta |
Esta parte do morro da Covanca não é tão belo como a parte de Água Santa, mas valeu a pena. Matei as saudades.
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Muito provavelmente uma das primeiras casas construídas no local. |